“Segunda-feira dia 07/02, volta às aulas, do nosso ano letivo 2011.”

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Reflexões Pedagógicas I

(Por Irecy Damasceno)

Preâmbulo

A história é real, mas neste caso optei por usar um nome fictício em vez do nome do aluno não apenas para resguardar a sua identidade, mas para que saibamos que esta é uma história que se repete dentro das escolas na vida dos Felipes, das Marias, dos Marcelos, das Priscilas, dos Joãos... Infelizmente, histórias assim são tão comuns que já não emocionam muitos dos professores que estão dentro das salas de aula. O fracasso é encarado até como necessário para que, alguns professores e escolas ganhem fama de excelentes - "Comigo ele não vai passar", "A turma é fraca, têm uns gatos pingados que sabem a matéria", "Comigo só passa se souber". Inverteram a lógica porque a melhor escola é a que apresenta melhores índices de aprendizagem. Se a reprovação foi alta, podemos inferir que a aprendizagem não aconteceu. Este é um fato comprovado nas estatísticas. A culpa é sempre do aluno: ou porque não estudou, ou porque é pobre, ou porque não se interessou, não quer nada com o estudo, etc. Nem sempre, nós educadores, investigamos e identificamos as causas, raramente percebemos as tramas do contexto e os dramas sociais dos alunos. O tempo vai passando, eles crescem, desistem de estudar, saem das escolas... e, aqui vai a "pergunta que não quer calar". Será que aqueles rapazes, que estão sequestrando professores, nunca estiveram numa escola? Serão todos analfabetos? CLARO QUE NÃO! Dificilmente refletimos sobre estas questões porque é complicado assumirmos a nossa parcela de culpa. Somos especialistas na "arte da transferência da culpa" e na "arte da reclamação". Reclamamos da violência urbana e culpamos o governo pela falta de segurança... Reclamamos da drogadição e culpamos o governo por sua ineficiência no combate ao tráfico... Reclamamos da corrupção e blá... blá... blá... Reclamamos de todas as mazelas que assolam a sociedade contemporânea e sempre encontramos outros culpados mas algumas evidências nos comprometem e alguns dedos também estão apontando para nós, educadores.

A História

O Aluno Mateus tem 14 anos e está na 4ª série ou 5º ano como preferirem, é muito agitado, está sempre batucando na sua mesa, cantando para chamar a minha atenção ou andando pela sala. É tímido e ciumento. Tem olhar triste e quando recebe carinho ele retribui com um sorriso no cantinho da boca. Ele precisa de muito incentivo para iniciar uma atividade e para concluí-la requer orientação e paciência. Mora numa comunidade de baixa renda com seu pai, sua madrasta e mais dois irmãos. Tem diagnóstico de hiperatividade, faz tratamento com remédio controlado para melhorar a concentração e diminuir a agressividade. Ele é muito pequeno e raquítico para a sua idade. Mesmo com muita dificuldade ele consegue aprender e por muitas vezes surpreende com suas respostas. Mateus conseguiu acertar mais de 80% da sua avaliação. Ele é meu aluno há um pouco mais de dois meses. Foi tratado com amor e paciência. O atendimento no Laboratório de Informática foi feito três vezes por semana, foi constantemente incentivado a progredir. Sentiu-se valorizado e respeitado dentro da escola. Aprendeu a conviver e ganhou o 1º lugar do concurso de frases que foi realizado como culminância do Projeto "Somos Diferentes mas Podemos ser Amigos" com a seguinte frase: “Eu quero um amigo que me respeite e goste de mim como eu sou.”

Em 2007 fiquei apenas quatro meses com esta turma. Neste ano (2008) retornei para a minha antiga função - Coordenadora Pedagógica. No Conselho de Classe do 1º Bimestre, estranhei o fato da turma do Mateus não ter representante porque nenhum aluno preencheu os requisitos (assiduidade, boas notas, participação e disciplina). Fui à turma para conversar com eles e desafiá-los. Comecei a minha conversa elogiando-os pelo que eram capazes de fazer no ano anterior. Eu havia presenciado um grande avanço da turma na escrita e no raciocínio lógico nos meses em que trabalhei com eles.
Falei que no 2º bimestre/2008 eu gostaria de vê-los na galeria dos melhores, porque os conheço e sei do potencial deles. Citei exemplos do que eles são capazes de fazer, chamei-os pelo nome e falei dos sonhos que realizamos juntos.

A surpresa que me emocionou

A turma toda estava me ouvindo e eu passeava pela sala e tocava-os carinhosamente. Quando fiquei novamente diante da mesa do professor, um aluno muito timidamente sem dizer nada se aproximou de mim e entregou-me uma massaroca de papeizinhos que eu reconheci na hora. Eram as cédulas usadas no concurso de frases. Fui folheando uma a uma, e a frase marcada era sempre a mesma “Eu quero um amigo que me respeite e goste de mim como eu sou.” Aquela frase soou como um grito aos meus ouvidos. Foi difícil conter a emoção. Ele as guardou durante um ano porque talvez aquela tenha sido a sua melhor produção. Mesmo que tenha feito outras frases e textos maravilhosos, aquela frase tem um significado. É o seu desejo mais profundo, é o seu pedido mais gritante. Para mim esta frase diz: - sei que não sou perfeito, às vezes brigo, às vezes bato e apanho, sou desorganizado, meu material é feio e sujo, meu uniforme é puído, não consigo parar quieto. Mas eu não sou um menino mal, às vezes não consigo me controlar e faço coisas que não quero fazer, depois eu me arrependo, prometo que não vou fazer aquilo novamente mas esse nervoso sempre volta e aí, quando vou ver, já fiz o que não devia ter feito. Sou um menino triste porque não tenho amigos, me perdoem por favor porque "Eu quero um amigo que me respeite e goste de mim como eu sou." - Esta frase colocou Mateus em evidência na escola, ele ficou famoso por um tempo entre os colegas e professores. Seu sonho foi realizado em parte até que todos se esqueceram do Mateus e da sua frase. Não sei se ele mostrou esses papeizinhos para outras pessoas, acredito que não. Ele me mostrou porque construímos laços afetivos muito fortes quando convivemos diariamente. E mais uma vez eu ouvi o seu grito. Hoje o Mateus é apenas um aluno problemático que está entre os classificado de difícil aprendizagem.

Educação e inclusão

Podemos afirmar que há uma relação indissociável entre o ensinar e o aprender. Em qualquer sociedade os papéis de "ensinantes e aprendentes" se alternam. A educação está presente nos mais variados espaços do convívio social, é o fenômeno responsável pela manutenção e perpetuação da espécie humana. Se abandonarmos uma criança ao nascer ela morrerá. Se apenas suprirmos suas necessidades orgânicas e fisiológica, mas a isolarmos totalmente dos seus semelhantes ela não se desenvolverá. A educação formal - observada em instituições específicas - se dá de forma intencional e com objetivos determinados, como no caso das escolas. Hoje, em plena era do conhecimento, da informação e da Internet, a educação passa por uma crise de paradigmas. A escola não consegue educar o cidadão do III Milênio sendo aquela velha transmissora de conhecimentos. Por mais novos que sejam, quando chegam ao aluno, muitos conhecimentos já estão ultrapassados. A produção científica e tecnológica é acelerada. Os professores, para complementar o salário, trabalham com uma carga horária desumana e não sobra tempo para estudar. E os alunos que precisam de atendimentos especializados ficam relegados aos últimos planos em todas as esferas do poder. Algumas ações maqueiam a situação mas a realidade é que muitas escolas não conseguem incluir os alunos Portadores de Necessidades Educativas Especiais, eles ficam lá, no meio dos outros mas sem chances de desenvolvimento. O tempo vai passando e eles fazem 20, 25, 30 anos e continuam lá.



O Segredo para lidar com os (J)... (M)... (D)... (T)...

Não sou especialista em Educação Inclusiva, mas funcionou comigo.

1- Ame o seu aluno.
2- Planeje aulas e atividades interessantes.
3- Estabeleça uma relação de confiança.
4- Se prometer, cumpra.
5- Use todos os ambientes de aprendizagem da escola.
6- Mantenha contato com a família.
7- Conheça seu aluno para saber como ele aprende.
8- Seja pontual e só falte em caso de necessidade.
9- Defina os limites deles e os seus.
10- Crie com eles um código de convivência. Coloque-o em prática.

Irecy Damasceno - Coordenadora Pedagógica

Nenhum comentário:

 
©2009 Alexandre Fernandes Por Orkut