“Segunda-feira dia 07/02, volta às aulas, do nosso ano letivo 2011.”

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Exemplo de mãe

Por Irecy Damasceno - Orientadora Tecnológica

Esta história começou há muito tempo atrás...
Hoje, eu vou contar apenas uma parte dela para fazer uma justa e merecida homenagem a uma mãe que sonhou com um futuro melhor para seus filhos e para si, contornou os obstáculos, superou as dificuldades e venceu os desafios.Nelma Nascimento Inácio Biazini (36 anos), tem dois filhos naturais Danilo e Tainá, neste ano (início de 2009) adotou mais um, o Matheus. Os três estudam no C. E. Julião Nogueira. Ela, o esposo e seus três filhos moram na zona rural num lugar de difícil acesso chamado Aleluia do Imbé que fica na estrada de Lagoa de Cima do mesmo lado do distrito de São Benedito em Campos dos Goytacazes.Quando criança estudou numa escola próxima a sua residência. Amava os livros, levantava cedo ia para a escola rezando para que a professora não faltasse. “Era muito triste ter que voltar para casa sem aula, e acontecia sempre, aí o dia ficava muito comprido as horas custavam a passar. Quando chovia eu desenhava o Sol bem grande no chão colocava sal nos olhos dele, porque diziam que o sal puxava a água e fazia a chuva parar.”Aos dez anos, Nelma teve que parar de estudar porque a escola fechou. “Era difícil para os professores chegarem lá, como eles faltavam muito e tinha pouco aluno o governo fechou a escola”. Depois disto ela ficou sem estudar, mas dentro do seu coração sabia que um dia conseguiria voltar para uma escola. Casou-se teve dois filhos e dedicou-se integralmente a sua família.

“Meu marido, que sabia do meu sonho, me incentivava a voltar a estudar, mas eu falava para ele que quando os meus filhos estivessem maiores eu voltaria porque eu não queria deixá-los por conta de outras pessoas.”Danilo e Tainá estudaram numa escola próxima à casa da família, que só tem o 1º segmento do Ensino Fundamental. Quando Danilo terminou a quarta série Nelma sabia que precisava tomar uma difícil decisão. Tinha que pagar o preço, não apenas para realizar o seu próprio sonho interrompido há dezoito anos, mas principalmente para que a sua história não fosse repetida na vida dos seus filhos.Em 2003, num dia quente de verão, Nelma saiu de sua casa e veio ao C. E. Julião Nogueira para matricular os seus filhos, Danilo na quinta e Tainá na quarta série. Mas, ela não queria só isso. Sabia que o governo tinha uma dívida com ela. O choro daquela criança de dez anos, hoje mulher feita e mãe, se transformou em pedido, quase lamento para que a escola também aceitasse a sua matrícula. Inicialmente a escola disse não. Tentou convencê-la de que a sua idade era um importante fator de impedimento para realizar a sua matrícula no 1º turno, entre os alunos menores. Você está fora da faixa etária, só podemos fazer a sua matrícula na EJA – Ensino de Jovens e Adultos. Porque a linguagem do professor... Porque os interesses dos alunos... Porque os conteúdos... Nada a convenceu. Após ouvir sua história a escola se sensibilizou e resolveu aceitar a sua matrícula na quarta série regular, ela com 31 junto com os alunos de 9 anos em diante. Hoje, Nelma Nascimento Inácio Biazini é aluna do 1º turno, Fase III EM- EJA.Aconteceu um fato este ano que revela outro perfil desta grande mulher. Ela soube da história de um menino chamado Matheus que estava com um triste destino traçado. Morador de uma localidade chamada “Mocotó”, teria que parar de estudar, por ter concluído o ciclo que a escola local oferecia. Este menino mora a aproximadamente 2h de caminhada da casa da Nelma (não soube falar a distância). Para conseguir chegar ao C. E. Julião Nogueira ele teria que levantar à 1h para se preparar, caminhar 3h para embarcar no ônibus das 5h, andar embarcado mais 2h para o inicio das aulas às 7h. A mãe do Matheus decidiu então que não iria submeter o seu filho a este imenso sacrifício. Sabendo deste caso Nelma se ofereceu como mãe adotiva da criança. Sua proposta foi aceita e o Matheus passou a morar em sua casa como filho. Ela assumiu todas as responsabilidades referentes ao estudo, alimentação e saúde dele.Durante os últimos cincos anos a rotina semanal da mãe e aluna Nelma é a seguinte: levanta às 4h da madrugada, acorda os filhos, agora são três, prepara e serve o café, se arruma, sai de casa.
Desce o morro com os filhos para embarcarem no ônibus das 5h, que já está lotado. Quando ainda tem cadeiras vazias eles sentam, mas logo precisam levantar para ceder o lugar aos passageiros que pagam. Acontece com frequência defeito no ônibus. Quando chove muito a estrada fica intransitável, em consequência disso, ou eles ficam em casa ou a viagem atrasa, mas quando tudo dá certo eles chegam às 7h na escola. Quando falta professor ou acontece algum outro imprevisto que seja necessária a suspensão das aulas, esta família literalmente perde o seu dia porque o ônibus de volta sai de Campos às 13h e eles só chegam em casa às 16h30min depois de subir o tal morro.Após a rotina de estudante a dona de casa Nelma, vence o cansaço e inicia sua outra jornada: lavar, passar, cozinhar, servir o jantar, colocar os filhos para estudar e também estuda. “Quando eu preciso de um reforço, quando não estou entendendo a matéria meus filhos me ajudam e quando eu sei eu ajudo eles.”Dormem por volta das 20h30min para acordar no dia seguinte novamente às 4h e começar tudo de novo.O C. E. Julião Nogueira faz à Nelma Nascimento Inácio Biazini, uma homenagem pelo exemplo de luta, perseverança, solidariedade e fé. Encontramos nela todos os requisitos que uma MÃE precisa ter. Podemos avaliar pelas atitudes e notas dos seus filhos a educação dos valores genuínos que lhes foram ensinados. Podemos perceber também o valor que tem para a criança uma família bem estruturada e uma MÃE que reconhece a educação escolar como meio legítimo de ascenção social, de oportunidades de melhores salários e de mudança de vida.
(Nelma e seus filhos. Fotos: Irecy Damasceno)

Um comentário:

viviane amaral disse...

É bonito e emocionante conhecer histórias de luta, de sacrifícios, mas sobretudo, de fé, de crença e de vitórias. Nós podemos tudo Naquele que nos fortalece; isso é tudo, é o motivo principal, mais soberano.

 
©2009 Alexandre Fernandes Por Orkut